A Polícia Civil de São Paulo concluiu nesta segunda-feira (2) o inquérito e responsabilizou criminalmente as duas donas e uma funcionária da Escola Infantil Colmeia Mágica, na Zona Leste, por tortura contra nove crianças que aparecem amarradas e chorando em vídeos e fotos dentro do banheiro da creche. O caso foi revelado em março pelo g1.

Além de tortura, elas foram indiciadas por maus-tratos, associação criminosa, perigo de vida e constrangimento.

O relatório final da investigação, com o indiciamento das irmãs Roberta e Fernanda Semer e a pedagoga Solange Hernandez, foi encaminhado para análise do Ministério Público (MP). O órgão decidirá se denuncia ou não as mulheres pelos crimes. Se a Justiça aceitar as acusações da Promotoria, as três se tornarão rés no processo.

g1 não conseguiu localizar as defesas das irmãs Serme e de Solange para comentarem o assunto até a última atualização desta reportagem. Em depoimentos anteriores à polícia, a diretora Roberta, de 40 anos, a pedagoga Fernanda, de 37, e a auxiliar de limpeza Solange, 55, sempre negaram as acusações. Os advogados delas também reforçaram a inocência delas em entrevistas que já deram à imprensa.

Donas de escola estão presas

As donas da escola estão presas preventivamente pelos crimes. Roberta foi detida na quinta (28) após se entregar em uma delegacia em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. Ela estava foragida há mais de um mês. Fernanda havia sido presa antes, na segunda (25), na casa de parentes em Mogi das Cruzes. Solange responde em liberdade.

As irmãs Serme foram transferidas na semana passada para a penitenciária feminina de Tremembé, no interior do estado, por questões de segurança. Solange não teve a prisão pedida pela investigação e responde em liberdade.

De acordo com a polícia, além de atrapalharem a investigação, as irmãs Serme se mudaram de suas casas sem informarem os novos endereços à Justiça. Já Solange compareceu na delegacia que investiga o caso e colaborou com a apuração.

Vídeos gravaram maus-tratos a alunos

A Colmeia Mágica está fechada atualmente, depois que a denúncia veio à tona. Ela atendia alunos de 0 a 5 anos de idade, do berçário ao ensino infantil. Os vídeos e fotos das crianças com os braços imobilizados por lençóis, como se usassem uma camisa de força, presos a cadeirinhas de bebês, embaixo de uma pia e perto de uma privada viralizaram nas redes sociais. E provocaram protestos dos pais dos alunos e indignação da população.

As imagens chegaram ao conhecimento da Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) da 8ª Delegacia Seccional, que abriu inquérito para investigar o caso. Não há confirmação de quem gravou os vídeos. A suspeita é de que possa ter sido alguma funcionária da creche descontente com o que viu.

De acordo com o que professoras que trabalhavam na escola disseram à polícia, apesar de não participar diretamente dos maus-tratos aos alunos, Roberta era quem amarrava as crianças, acreditando que com isso elas parariam de chorar. Segundo elas, a diretora não suportava ouvir choros dos alunos.

Ainda segundo os depoimentos, Fernanda era conivente com a situação. Há ainda relatos de que Solange chegou a cobrir a cabeça de um bebê com uma coberta e ele ficou internado num hospital após sentir dificuldades de respirar.

As educadoras também contaram à investigação que viram outras punições: algumas crianças, que desobedeciam as regras da direção, eram levadas para um banheiro escuro, sem a presença das educadoras. E as maiores eram colocadas em pé por horas na sala de Roberta para “pensarem” sobre o que fizeram. As professoras foram ouvidas como testemunhas.

Ainda segundo as professoras, a diretora gritava com funcionárias e com as crianças, que tinham “muito medo” dela.

Delegado diz que investigação foi legal

Por causa dessas acusações é que Roberta, Fernanda e Solange foram responsabilizadas criminalmente pela investigação por suspeita de participarem dos castigos às crianças que choravam ou se recusavam a se alimentar.

Durante o processo judicial, o advogado André Dias, que defende Roberta e Solange, chegou a acusar a polícia de abuso de autoridade na fase de inquérito. Procurado pelo g1 para comentar o assunto, o delegado Renato Topan, que presidiu a investigação, negou as acusações.

“A Polícia Civil agiu dentro da mais absoluta legalidade e respeitou todas as mais de 40 pessoas que estiveram na delegacia, inclusive as indiciadas. As falsas acusações sobre abuso de autoridade serão alvos de medidas de reparação moral e criminal contra quem, irresponsavelmente, as fez”, disse Topan.
A reportagem não conseguiu localizar Dias para tratar do assunto. Alguns laudos periciais ainda não foram finalizados. Os resultados deles serão levados para o MP.

Pais de alunos ouvidos pela investigação identificaram seus filhos nos vídeos e fotos e relataram que alguns deles iam para a escolinha e voltavam de lá machucados.

Quando concordou com o pedido de prisão contra Roberta, o Ministério Público havia informado que os vídeos das crianças amarradas, as fotos de algumas delas machucadas após saírem da escolinha, e os depoimentos de testemunhas (tanto das professoras quanto dos pais de alunos) que estão com a polícia mostram que os alunos tiveram “intensos sofrimentos físicos e psicológicos”.

No entendimento da Justiça , que decretou a prisão temporária por 30 dias da diretora, as provas demonstram que “há fortes indícios” de que ela esteja envolvida “na prática dos delitos”.

FONTEterrabrasilnoticias.com
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