Há apenas três anos, Rodrigo e Felipe se apresentavam num palco improvisado, em eventos da pequena cidade baiana de Heliópolis, que tem 12 mil habitantes. “O palco geralmente era de madeira, no chão. Ou num reboque de trator. A gente ficava em cima do reboque do trator e tinha um paredão [aquela pilha gigantesca de caixas de som] do lado, que era o som do evento que a gente tocava”.

Quem conta a história é Felipe, o tecladista da dupla Barões da Pisadinha, no documentário Da Roça para a Cidade, que estreou nesta terça (29) no YouTube, com produção da Amazon Music. Agora, esse fenômeno da música brasileira já leva seus sucessos como Quem Me Colocou Pra Beber para palcos bem mais distantes: em setembro, vai fazer uma turnê nos EUA. “Como 70% da população tá vacinada, até lá deve ter completado 100%, então a gente vai se apresentar”, comemora Felipe.

Uma mudança e tanto para quem, há cinco ou seis anos, não ganhava mais que R$ 600 por mês acompanhando bandas locais como instrumentista. O vídeo, embora tenha apenas 30 minutos, emociona e dá uma boa ideia de como foi a ascensão da dupla, que vive, como eles mesmos dizem, “um conto de fadas”. Rodrigo e Felipe passam por um processo muito parecido com aquele de muitos jogadores de futebol: de família humilde, quase todos sonham em comprar uma casa para os pais, que são fundamentais no apoio à carreira.

Apoio familiar

E essa foi a primeira providência que Felipe tomou: antes mesmo de comprar a própria casa, realizou o desejo da mãe, Maria, que se mudou para um imóvel de frente pra uma movimentada praça em Heliópolis, provavelmente a “área nobre” da cidade. Dona Maria foi decisiva na mudança de rumo da carreira do filho, como descobrimos a certa altura do doc.

Amigas e parentes dela achavam meio perigoso Felipe, ainda aos 12 anos, viajar com as bandas que acompanhava como guitarrista. Dona Maria diz que as pessoas perguntavam se ela ia mesmo deixar o menino daquela idade “sair por aí tocando”. “Mas não tinha jeito”, diz ela, conformada, no filme. Do outro lado, Felipe acrescenta: “Se não deixasse, eu ia escondido”.

Mas Dona Maria não se limitava a incentivar o filho e até dava uns palpites na carreira dele. Acabou se tornando responsável por uma mudança decisiva na trajetória musical do rapaz, que, apesar de hoje ser tecladista, gostava mesmo era de tocar de guitarra, como mostra no filme um vídeo de 2013, em que ele aparece tocando o icônico solo de Mark Knopfler em Sultans of Swing, que todo músico aprendiz sonha reproduzir.

Foi Dona Maria que um dia deu ao filho a ideia de deixar a guitarra e se arriscar em outro instrumento. Ela tinha visto uma apresentação de um tecladista e ficou impressionada porque ele tinha animado uma festa sozinho, sem precisar de outros músicos. “Todo mundo dançou, foi uma loucura. Por que no lugar da guitarra você não compra um teclado?”, disse ao filho. E, como se não quisesse nada, ele comprou o instrumento e correu pra aprender com uns vídeos no YouTube.

O conselho da mãe deu muito certo e logo ele estava sendo chamado para fazer umas festas. Animado, Felipe decidiu procurar um vocalista e é aí que Rodrigo entra. A dupla então começou a batalhar pela carreira, fazendo umas apresentações nas cidades vizinhas e casas locais, como o bar de Seu Pedro, que aparece no vídeo e fala do carinho que tem pelos meninos.

Tour em Heliópolis

Daí em diante, o filme faz um tour pela cidade e os rapazes visitam locais importantes para ele, como a casa onde improvisaram um estúdio. Como não tinham dinheiro para investir em revestimento acústico, apelaram para o improviso: na gravação, Rodrigo aproximava a boca do colchão que eles haviam colocado na parede. O efeito, ainda muito longe de ser profissional, dava condições mínimas para a gravação.

Com as músicas no YouTube, a dupla acabou chegando a Goiás, primeiro estado fora da Bahia onde se apresentaram. Depois, foram a Tocantins, Distrito Federal… até que o telefone deles não parava de tocar e, a certa altura, já faziam mais de 30 shows no mês, a ponto de passar oito meses sem pisar em Heliópolis.

Dona Maria e Felipe

 

Foi aí que Rodrigo ligou pra mãe e disse: “Mãe, não precisa mais a senhora trabalhar”. No final de 2019, veio o contrato com a Sony, que levou os Barões a um outro patamar. Passaram então a se apresentar na Globo, Record, SBT… Chegaram a lotar casas de espetáculo no Sul e Sudeste do país, antes da pandemia. A agenda de shows estava bem recheada, mas precisou ser suspensa.

Mas Felipe, que ficou noivo e está esperando a sua casa ficar pronto em Heliópolis, garante que ainda pode andar tranquilamente pelas ruas da cidade, pelo menos enquanto a agenda de shows não é retomada: “Qualquer hora que você chegar, vai encontrar a gente no açougue, na padaria. O povo de Heliópolis não trata a gente como artista. Consigo viver normalmente. Ainda dá pra tomar uma cervejinha no bar, mas às vezes, o que falta, é tempo”.

Podcast do CORREIO conta história da pisadinha 

A história da pisadinha é o tema de um podcast que o CORREIO lançou neste mês e está nas plataformas de música. Os Barões da Pisadinha, que deram início à febre, são entrevistados pelo jornalista Vitor Villar, que realiza a série de podcasts O Que a Bahia Quer Saber. “Felipe me convidou e montamos os Barões do Forró Prime. E aí, gravamos o CD promocional, que tinha só pisadinha. Mas a gente tinha pouco contato com internet e um amigo que colocou nossas músicas lá. Aí, Deus catou a gente pela perna e falou ‘vem pra cá, seus vagabundinhos. Vamos embora”, diz Rodrigo, muito bem humorado.

Mas o podcast, que leva o nome ‘Pisadinha, o Fenômeno Nascido na Bahia que Ameaça o Sertanejo’, não conta só a história dos Barões: Nelson Nascimento, a quem é atribuída a criação do ritmo, também foi entrevistado. E a pisadinha, segundo ele, nasceu a partir do xote com uma mistura com o pagodão baiano. “Foi um negócio meio estranho no começo, mas depois o pessoal acostumou”, diz o compositor.

Além do podcast sobre a pisadinha, há outros dois relacionados à música. Um é sobre as diferenças entre as variantes do forró, como xote, xaxado e baião. O outro é sobre a evolução do forró ao longo do tempo.

FONTEcorreio24horas.com.br
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