A pandemia de Covid-19, que alterou as estruturas econômicas e sociais no mundo, trouxe um fardo adicional à população mundial além da doença causada pelo coronavírus Sars-CoV-2: enfermidades ativadas pelo estresse mental, como enxaqueca e herpes-zóster, tiveram um aumento durante o período e desafiam os sistemas de saúde a prestar ainda mais assistência em um período crítico.

Cerca de 45% da população de 30 países teve piora leve ou intensa nas condições de saúde mental, aponta pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos divulgada em abril deste ano. No Brasil, o índice sobe para 53% -o quinto país da lista com o pior índice.

“Na prática, os gatilhos de estresse, ansiedade e insônia aumentaram muito neste período. No início da pandemia foi ainda pior, pois as pessoas não saíam de casa para fazer as consultas médicas”, afirma a médica neurologista Aline Vitali da Silva, coordenadora do Ambulatório de Cefaleia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), em Londrina.

Segundo a médica, foi possível observar aumento na frequência das crises de enxaqueca em quem já tinha a doença e em diagnósticos novos.

“Com as consultas online as pessoas passaram a buscar mais o tratamento e a situação foi melhorando. Mas há ainda muitos que não procuram atendimento”, diz Silva.

Levantamentos mostram aumentos na frequência e intensidade da enxaqueca no mundo todo. Em uma dessas pesquisas, feita com mais de 1.000 pacientes da doença no Kuwait, apontou que quase 60% dos participantes teve piora nas crises. O estudo foi publicado em setembro no periódico científico Journal of Headache and Pain.

Identificada geralmente por uma forte dor de cabeça, a enxaqueca pode vir acompanhada de outros sintomas, como nausea, vômito, fotofobia (incômodo causado pela luz) e até diarreia em alguns casos, diz Silva. Fora do período de crise, o paciente tende a limitar sua vida social e profissional por medo das manifestações.

Os chamados gatilhos podem desencadear uma crise pontual, que pode durar alguns dias. Esses gatilhos podem variar de pessoa para pessoa, mas o estresse e a ansiedade estão entre os mais comuns. A enxaqueca é considerada uma doença crônica e, quando não tratada, pode trazer crises por dias e meses seguidos.

Silva recomenda a procura por um médico neurologista quando a dor durar pelo menos três dias no mês. “Dores de cabeça que têm subida intensa e não cedem com remédios, ou que pioram com o esforço físico, merecem atenção especial”, afirma.

A automedicação, prática comum no país e que teve aumento durante a pandemia, traz riscos ainda maiores para portadores de enxaqueca, segundo Silva. “Quando usados por mais de dez dias por mês, os analgésicos podem trazer piora no padrão da dor e parar de fazer efeito”, alerta a médica.

O grupo de pesquisadores de dores de cabeça da PUCPR lançou um livro digital com explicações e orientaçoes aos pacientes que pode ser baixado gratuitamente no site naoedrama.com.br.

Pesquisadores brasileiros apontaram ainda que a herpes-zóster, outra doença que pode ser ativada pelo estresse, teve um aumento no número de casos de cerca de 35% no país durante a pandemia. O estudo, publicado em fevereiro na revista científica International Journal of Infectious Diseases, foi feito com dados do SUS e apontou crescimento dos casos em todas as regiões do Brasil.

“Observou-se que, no período que antecedeu a pandemia, tínhamos 30,2 casos de herpes-zóster para cada 1 milhão de pessoas. Durante a pandemia, esse número saltou para 40,9 casos por 1 milhão de indivíduos”, disse Hercílio Martelli Júnior, coordenador da pesquisa e professor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) em comunicado publicado pelo governo de Minas Gerais.

A herpes-zóster é causada pelo vírus da catapora que pode ressurgir na vida adulta, trazendo lesões avermelhadas na pele e dor.

Segundo Júnior, ainda não é possível estabelecer os mecanismos imunológicos que podem estar envolvidos nessas alterações, mas sabe-se que a desregulação do sistema imune associada ao estresse físico e mental pode ser um fator de reativação do vírus.

Pelo menos no caso da enxaqueca, a Covid-19 pode ter algum papel no aumento dos casos. Uma pesquisa liderada pela médica neurologista Clarissa Lin Yasuda, professora na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), apontou que parte das pessoas que se recuperam da doença pode ficar com consequências neurológicas, entre elas o surgimento ou a piora das crises de enxaqueca.

De acordo com especialistas, uma revisão médica até mesmo após casos mais leves da Covid-19 é necessária para avaliar a presença de sequelas que podem ir além do pulmão e do coração.

De acordo com Silva, a enxaqueca atinge cerca de 15% da população mundial e, embora parte dos tratamentos seja feitos com remédios, medidas como atividades físicas, sono regular e alimentação equilibrada têm efeitos benéficos para os pacientes.

“É muito importante controlar o estresse. Não dá para controlar tudo na vida, mas é possível se organizar para ter uma vida menos estressante”, afirma a médica.

FONTEbahianoticias.com.br
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