O preço do gás de cozinha despencou nas refinarias da Petrobras no fim de março, mas o consumidor ainda não sentiu o alívio no bolso. Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), o repasse está sendo represado tanto na etapa da distribuição quanto na revenda.


A Petrobras já promoveu quatro cortes no preço do gás de cozinha em 2020, um deles (de 3%) em fevereiro e três (dois de 5% e um de 10%) no fim de março, já em meio aos efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre as cotações do petróleo. No ano, o valor de venda do combustível pelas refinarias da estatal acumula queda de 21%.
Nas revendas, porém, não houve alteração. De acordo com a ANP, o preço médio de venda do botijão no país era na semana passada apenas 0,24% inferior ao praticado na segunda quinzena de março, a última antes dos cortes mais profundos nas refinarias.
Segundo a Petrobras, o preço de refinaria do gás de cozinha equivale a cerca de 30% do valor final de venda do botijão -o restante é composto impostos e margens de distribuidoras e revendedores. Assim, um corte de 20% nas refinarias levaria a uma queda de ao menos 6% no preço final.


Os preços nas distribuidoras, porém, caíram apenas 2,13% no período, para uma média nacional de R$ 51,97 por botijão. A margem dos revendedores subiu 5,68%, para R$ 17,84 por botijão. A pesquisa é feita em cerca de 4,3 mil pontos de revenda no país.
O mercado de gás de botijão vem enfrentando turbulências desde o início das medidas de isolamento, que levaram os brasileiros a comer mais em casa e, em algumas regiões, provocaram corrida para estocar o produto. Com a alta do consumo, houve problemas de entrega do produto em diversos estados.
O cenário levou a denúncias por aumentos injustificados. Em São Paulo, por exemplo, o governador João Dória (PSDB) determinou que o Procon fiscalizasse as vendas do produto em busca de práticas abusivas. Nesta terça (28), o Procon-SP disse à reportagem que os preços no estado estão caindo.


Os dados da ANP mostram, porém, que só houve queda superior a 1% em quatro estados: Ceará, Amapá, Maranhão e Piauí. O Ceará é o que teve a maior redução, de 2,43%, considerando a variação entre a segunda semana de março e a semana passada.
Em outras 22 unidades da federação, o preço ficou praticamente estável, com pequenas variações para cima ou para baixo. No Espírito Santo, por outro lado, houve alta de 6,83%.
Os revendedores reclamam de que o corte dos preços nas refinarias não está sendo repassado pelas distribuidoras. “Infelizmente, a concentração no setor de GLP [gás liquefeito de petróleo, o gás de cozinha] é desproporcional”, disse, em nota, a Abragás (Associação Brasileira das Entidades de Classe das Revendas de GLP).
O Sindigás (Sindicato das Empresas Distribuidoras de GLP) disse que não se manifesta sobre preços em nenhum dos elos, mas defendeu que os dados da ANP mostram que não houve aumento mesmo em um período de escassez de oferta.
Com o aumento das importações do produto e a regularização da procura, apenas Paraná e Rio Grande do Sul enfrentam atualmente dificuldades de abastecimento, segundo o Ministério de Minas e Energia. Há duas semanas, a lista do ministério tinha sete estados com problemas.


Desde o mês passado, a Petrobras passou a reforçar as importações para compensar a queda na produção em suas refinarias e ajustar a oferta de gasolina à queda da demanda após o início da pandemia. O gás de cozinha é extraído do petróleo nas mesmas unidades de refino que produzem gasolina.
No início do mês, o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, disse que a empresa vem se esforçando para garantir o abastecimento e criticou empresários que retardam o repasse da queda de preços nas refinarias para o consumidor.

 

 

 

FONTEFOLHAPRESS
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