O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas ao papel da imprensa na cobertura política do país e disse que ainda há uma campanha maciça contra petistas, como o que passou a ex-presidente Dilma Rousseff. Em entrevista a Mário Kertész hoje (16), na Rádio Metrópole, ele comentou que uma “mentira inescrupulosa” deu origem ao que o país passa.
“Eu acho que a Dilma foi vítima de uma mentira inescrupulosa. Resultou no Bolsonaro, mas não por causa da Dilma, e sim porque houve uma campanha massiva desse país de negação da política. Ainda hoje existe essa campanha. Existem determinados meios de comunicação que querem escolher qual o candidato a presidente e o presidente da Câmara. A imprensa não se contenta em informar, ela quer determinar. Agora ela quer governar”, disse Lula, que voltou a direcionar críticas à Rede Globo.
“Antigamente Roberto Marinho queria ter influência, Chateaubriand queria ter influência. Mas hoje os prepostos, porque já não tem mais o dono que tinha importância, querem governar. Até outro dia tinha uma tal de XP que fazia propaganda do Luciano Huck 24h por dia. Quando saiu uma denúncia contra a XP nos EUA, desapareceu a XP e apareceu o Luciano Huck”, ironizou.
“Agora a gente percebe que estão chamando Guedes para fazer palestra, Moro para fazer palestra e foi atrás do Guedes para que ele aprovasse com uma rapidez muito grande R$ 1,2 trilhão para salvar essas empresas de consultorias de investimento. Se demora tanto tempo para chegar o dinheiro na mão do pobre, porque chega com tanta rapidez na mão do banqueiro?”, acrescentou.
‘Tudo para os ricos e nada para os pobres’
Lula ainda criticou a atual situação do país diante do que representa a elite brasileira. Endossando recente comentário de Mário Kertész, que voltou a cobrar autocrítica e mais responsabilidade da classe para com a economia do país, o petista cobrou que as fatias mais pobres da sociedade recebam a devida atenção. O ex-presidente também defendeu o isolamento social como alternativa contra o coronavírus.
“A elite brasileira é isso que está acontecendo no Brasil, toda vez é isso. Tudo para os ricos e nada para os pobres. Quando a gente fala do isolamento e que a pessoa tem que ficar em casa, significa a mais extraordinária oportunidade de evitar que as pessoas sejam contaminadas. Ficar em casa só é possível para quem tem dinheiro ou se o estado garantir que as pessoas recebam o mínimo necessário se o pequeno e micro empresário receberem garantia para que ele vai poder sustentar o funcionário dele pagando salário. Se não garantir, uma parcela da população vai trabalhar porque tem uma parcela que precisa trabalhar. A sociedade precisa comer e precisa plantar. Para isso, é necessário garantia especial”, declarou.
Mandetta privatista
O ex-presidente também comentou o papel do ministro da Saúde, Henrique Mandetta, que está balançado no cargo e pode ser demitido ainda esta semana por Bolsonaro. Lula lembra que o chefe da pasta da Saúde é o responsável pelo fim do programa Mais Médicos no início do governo Bolsonaro.
“Esse ministro sempre foi contra o SUS, foi um dos responsáveis por mandar os médicos cubanos embora e acabar com o Mais Médicos. Ele era um privatista do sistema de Saúde. O que fica provado, Mário, é que toda hora que dá uma dor de barriga, o mercado se esconde e quem tem que cuidar é o estado. É por isso que defendo um estado indutor do desenvolvimento,que cuide da saúde, educação e o que é essencial para a população. A criação do Consórcio do NE é um resultado extraordinário”, declarou.