Em meio à pandemia de coronavírus, o Ministério da Educação (MEC) publicou a portaria de n° 343/2020 e autorizou as instituições de ensino presencial a adotarem o método de transmissão de aulas virtuais durante o período da quarentena por causa do risco de contágio da doença Covid-19. Universidades e faculdades adotaram a ferramenta como forma de minimizar os impactos da paralisação do cronograma previamente definido.

Em entrevista ao Portal A TARDE, o professor titular da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e coordenador do Grupo de Pesquisa em Educação, Comunicação e Tecnologias, Nelson Pretto, afirmou que o estudo à distância é uma modalidade fundamental para o Brasil. No entanto, frisa o docente, o método que está sendo adotado pelas universidades presenciais é complexo e desafiador, e pode ser prejudicial.

Foto: Rafael Muller | Ag. A TARDE

“A educação à distância tem planejamento, propósito, estratégias e infraestrutura. O que estão fazendo é um absurdo, numa situação complicada como essa, você transferir os cursos que foram projetados para serem oferecidos presencialmente para via redes, isso é problemático, porque não há planejamento, não há estratégia e não há formação dos profissionais para isso. O segundo ponto: não se considera a realidade socioeconômica e, portanto, infraestrutura dos alunos”, afirmou o professor.

Nelson Pretto ressalta que o estudo à distância deve ser utilizado, porém, o método que tem sido usado precisa ser repensado. “Será que hoje, considerando a gravidade do problema, emocionalmente falando, nós estamos em condições de continuar em casa a aula que vinha sendo dada na instituição?”, questionou.

Ainda em entrevista, o professor chamou atenção para a coleta de dados de usuários das plataformas digitais. “Há o uso constante de plataformas digitais que coletam dados, a exemplo da Zoom, que passou a ser usado por milhares e milhares de pessoas. Já há inúmeras denúncias de que já venderam dados de usuários para o Facebook, são falhas de segurança que permitem você entrar em conversas privadas. Essas grandes plataformas capitalistas que estão tomando conta da internet são um perigo. Todos esses processos de educação à distância utilizam plataformas sem a preocupação com segurança e privacidade dos dados, colocam em risco a privacidade do cidadão”, disse Nelson.

O professor de odontologia de uma universidade privada, Jorge Filho, 35 anos, conversou com o Portal A TARDE e afirmou que, no momento atual, a sociedade está tendo a necessidade de se reinventar e se apropriar de ferramentas que antes eram pouco utilizadas.

Foto: Arquivo pessoal

“Estamos vivendo um momento de crise e único no mundo. Aqueles que não tinham imergidos no mundo da tecnologia, que não utilizavam ferramentas online, agora estão sendo forçados a utilizar. E a gente está se esforçando ao máximo para que, utilizando a tecnologia de maneira à distância, possa oferecer conteúdo de qualidade para complementar as aulas presenciais que irão ser retomadas assim que for seguro”, disse Jorge.

O estudante de publicidade e propaganda, André Silva, 25 anos, afirmou que o método EAD tem sido desafiador para ele. De acordo com o discente, há algumas dificuldades como a qualidade de som e imagem, e acrescenta que o momento é de adaptação.

Foto: Arquivo pessoal

“Eu tenho conseguido absorver os conteúdos nas aulas, temos a apresentação de slides, temos contato com o professor por WhatsApp e e-mail constantemente. Eles ficam disponíveis durante um bom tempo ”, relatou André.

Foto: Arquivo pessoal

Para a estudante de fonoaudiologia, Graziele Cunha, 20 anos, os estudos via plataformas digitais têm sido satisfatórios. “Se as universidades não usassem esse meio, acredito que muito estudante sofreria com esse atraso. Então, vejo que eles estão dando um total apoio os professores. Estão dando assistência para que a gente não fique atrasado com os conteúdos. Acredito que diante da situação que estamos vivendo, é a melhor forma de colocar as atividades em continuidade para que a gente não sofra tanto prejuízos quando tudo voltar”, opinou Graziele.

O aluno de fisioterapia Luan Mascarenhas, 21 anos, afirma que não consegue se adaptar ao estudo à distância. Ele explicou que tem déficit de atenção e já sentia dificuldades no ensino presencial. “O método à distância não está sendo muito interessante para mim, porque em casa eu tenho muitas distrações. O próprio fato de eu estar em um computador já pode estar me distraindo. Ainda tem o fato de que o aplicativo que eles usam para fazer a videoconferência não é 100%, tem falhas e erros. Isso atrapalha muito. Os professores, às vezes, não contam com boa conexão, o áudio fica ruim. Eles não são treinados para estar dando esse tipo de aula”, sugeriu o estudante.

Após quase um mês de aulas virtuais, em um curso que considerado 70% de perfil prático, Luan diz que, no início, os professores conseguiram suprir as necessidades. Entretanto, o cenário já começa a mudar.”Os professores estão sem ter o que fazer, sem ter como avançar, sem dar as aulas práticas. Isso está afetando muito no meu aprendizado, além da dificuldade de focar, eu não estou tendo essa experiência prática. Já está saturado, os professores estão passando essa imagem, eles não tem mais como avançar “, disse.

*Sob supervisão do editor Aparecido Silva

FONTEA TARDE
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